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CRÔNICAS DE

CURA

por outras fronteiras, ingressei numa jornada do conhecer a si e ao outrem  .... motivada pela diversidade humana e inspirada pela natureza e o oculto, lancei-me ao desconhecido...
 
desejos, histórias, percepções se aguçaram.... outras surgiram de um lugar nunca dantes alcançados... a imaginação...  
 
o mundo como um lugar não meu, criei roteiros para me fazer existir... dentre eles alguns se tornaram crônicas ,   crônicas que curam ... 
 
Projetos

Feiticeira

O encontro marcado era um ritual de lua cheia consagrando changa ao lado desse amigo especial, aquele homem que permanecia em sua mente e acelerava seu coração.

 

Ela se preparou, não queria expectativas, mas ao mesmo tempo a ansiedade era inevitável. Comprou mantimentos, pensou na música, e imaginou o lugar... Evitou os pensamentos nos detalhes, pois gostava de surpresas... à muito custo buscou sua presença.

 

O dia foi passando, e nada de informação.... Ela fingia que isso não lhe alterava, mas olhava o celular em busca de algum recado.... No final da tarde chegou o que não queria: Ele não vinha, se ateve a outros movimentos e o encontro não coube em seu dia.

 

Ao receber esse fatídico recado ela teve duas reações, a primeira foi a racional e como ela gostaria de sentir o fato... "Tudo bem, não foi agora, ele tem o direito de não vim, poderia sim ter avisado antes, mas a vida sabe o que faz".... Queria ela ter ficado nesse pensamento... Entretanto o incomodo interno lhe consumiu.... " como ele não quis vim, não quis me ver, não fez questão desse momento enquanto eu estava tão ansiosa para vê-lo? .....Queria tanto ter a mesma importância pra ele, como ele tinha pra ela... Satisfazer seu EGO.

 

Chorou, teve raiva, doeu lá dentro, na profundidade de seu eu, intensamente .Gerou o conflito interno dos seus pensamentos e sentimentos.       

                 

Saiu pelas montanhas buscando o equilíbrio e força para curar aquela dor. Aparentemente não havia motivo pra tanto, mas assim o era...

                 

Caminhou em passos rápidos e fortes enfrentando o vento do entardecer e agonizando em seu pranto magoado.

 

Ao cume da montanha parou, como que instintivamente, com raiva em seus punhos,  praguejou para os céus... Rogou para a terra a sua força feminina e esbravejou contra todos os homens, em especial aquele que o feria... Sentiu uma energia diferente subindo por seu corpo. Era um poder diferente que a fez rir alto como uma feiticeira. Parecia magia.

 

Sentou na beira do penhasco, observando o mar se tranquilizou... Não queria mais sentir essa vulnerabilidade, clamava por seu  com seu sagrado feminino e seguiu firme para sua luta...

 

No dia seguinte ele lhe comunica que algo muito ruim havia lhe acontecido, ela chegou a pensar que seria sua praga a ter lhe atingido, mas ela não deve ter tamanho poder, ou será? nunca se sabe....

Sobre
Atuação

Atuação

Entre sol, lua, mar e montanha 

Ela passou os 19 dias naquele campo de refugiados a beira do mar, olhando para o cume da montanha almejando o dia que pudesse desfrutar do por do sol naquele lugar. No seu ultimo dia escapou dos afazeres, pulou a cerca do refugio e correu em direção ao topo.

 

 O sol já estava à beira de sua partida, ela não podia deixar escapar, era sua ultima chance.... correu com todo potencial de seu pulmão.... seu objetivo era um só: chegar ao cume. Não seguiu trilha alguma... foi transpassando pelas moitas de uma vegetação pontiaguda, sem nem notar qualquer arranhão.... precisava chegar logo.... precisava apreciar aquele momento de oportunidade única.

 

Enfim chegou em seu destino.... respiração forte e ofegante, sentou na pedra do topo e com seu cigarro encantado desfrutou o por do sol mais mágico de sua vida.... sentiu toda aquela beleza em seu corpo... seus olhos alcançavam cada raio do sol, que se mesclavam com o relevo ondulado e árido do mediterrâneo. Sentia-se agradecida por estar ali, e buscava daquela energia, forças e intuição para guiar sua vida tão conturbada e dolorida.

 

Como se não fosse suficiente aquela beleza, após a postura do rei sol, virou-se para trás para receber a brisa do mar, e ali foi surpreendida com a cena exuberante: a lua cheia e pujante levantava seu brilho do horizonte retilíneo  mar; a beleza e encanto era tanto que ela não pode segurar as lágrimas, se emocionou com aquele momento triunfante, onde os dois astros guias se saudavam... e ela se sentia privilegiada em poder estar ali,  entre eles, fazendo as honras de saída e entrada dos anfitriões.

 

Contemplou e sintonizou-se com aquele momento o máximo que pode, já não havia luz do sol quando percebeu que precisava voltar a civilização. Pouco sabia para onde deveria ir, não havia trilhas abertas e com sua pressa da subida não memorizou referências, foi seguindo seu senso de direção que apontava o caminho era ligeiramente para esquerda.

                                                                                        

Foi descendo devagar, passando pelas moitas mais baixas e pontiagudas até chegar num bosque de arvores altas e frondosas, com toda certeza não tinha passado por ali na ida, o que a fez perceber o quão perdida estava.  Teve um súbito desespero quando se percebeu sozinha, perdida, sem agua e comunicação, no escuro da floresta de um lugar que pouco conhecia. Fez analogia com o presente momento de sua vida, sem muito rumo apenas seguia sua intuição. Nesse momento teve a brilhante ideia de seguir a lua, que de certo daria ao mar, e do mar certamente chegaria ao seu repouso.

 

Iluminada por aquela claridade fria lunar foi passando pelas arvores e galhos até chegar em casas dispersas de campo... parecia se aproximar da civilização, mas tão pouco poderia se aproximar das casas, pois se houvesse cão de guarda, seria alvo fácil.

 

Continuou seguindo sua guia maior, a lua, até chegar a uma estrada asfaltada, ali já pode respirar aliviada, ainda não sabia ao certo a direção, continuou arriscando para esquerda... em alguns metros encontrou um mercadinho onde pode perguntar sobre seu destino, mesmo sem falar a mesma língua, pode entender a localização, caminhou mais alguns tantos de minutos e finamente avistou paisagem familiar. Sentiu-se abençoada por confiar, agradeceu a lua, agradeceu a si mesma e foi dormir com a sensação de que tudo vai dar certo, pode confiar!

Contato

Doende da floresta

Ela estava um pouco triste naquele dia esquisito…. Limpou a casa como de costume e tentou não chorar de novo pelo mesmo motivo…a solidão.

Precisava se mover e ainda tinha sol a aproveitar, saiu para um rio que conheceu na ultima semana… queria pular da pedra, pois não havia tido coragem da outra vez… no entanto, aquele sentimento de pesar lhe dava mais força.

                                                                           

Chegando, tirou sua roupa rápido para aproveitar a coragem, pediu permissão a rainha agua e já caiu de cabeça do primeiro nível da pedra.

 

Ficou ali a nadar e observou dois jovens adentrado a agua de corpos nus com  o mesmo respeito, trocaram olhares.

 

Ela seguiu para a pedra mais alta, mas antes resolveu fumar o seu cigarro para conseguir a força que lhe faltava. Nesse tempo uma conversa surgiu com dois moços. Um deles parecia um gnomo encantado, e abria a garrafa de vinho como tal ser... rezava suas palavras de benção e jogava o primeiro gole para a mãe terra.

 

Beberam ali juntos alguns goles para encorajá-la a subir as pedras. Chegando na beira do penhasco, aqueles 8 metros para encontrar a água lhe dava muito frio na barriga... ela respirava fundo, se preparava, queria pular mas seu corpo não se movia... paralisou.

 

E como um encantamento os cantos em louvor ao por do sol que vinha de seus novos amigos da natureza lhe convidou a encontrá-los. Ela caminhou até o paredão onde eles desfrutavam os últimos raios de sol e se juntou aos cantos. Ficou em êxtase com aquele momento: três jovens corpos nus sentados num paredão de pedras mornas...teve arrepios de tesão, mas se conteve aos seus pensamentos.

 

Seguiram para a cidade os três a procura de algo para comer. O Gnomo encantado começou a falar de sua compreensão holística da sexualidade, a intrigou.

 

Trocou o carro por uma bicicleta e seguiram pela estrada escura de lua nova, havia  uma certa apreensão de encontrar um carro no meio daquelas curvas, mas isso apenas deixou a aventura mais emocionante.

 

Os dois, como lobos no cio rastrearam no meio da floresta uma clareira aconchegante para se acostarem. Fizeram uma cama com algumas almofadas e mantas e ali ela apenas foi venerada. Não sabia por que, mas aquele homem apreciava sua energia feminina de uma forma que ela apenas deleitava, não tinha necessidade de tocá-lo ou excitá-lo, ele deixou claro que seu prazer seria lhe dar prazer....

 

Ela aproveitou... deitou-se e excitada pelo frio e tesão teve a sensação que todos os seres da floresta tocavam seu corpo... como que se aquele único ser tivesse se multiplicado para alcançar todos os seus corpos. Trocaram sopros de energia pela boca, e sua mente se expandiu em cores e formigamento.

 

A satisfação do sexo lhes trouxe o sono que logo foi desperto pelos raios do sol e ruido dos animais. Se fizeram prontos e cada um seguiu em caminhos opostos. Nunca mais se falaram ou se viram novamente, mas o encantamento da noite ela guarda na memória: o dia que transou com os seres da floresta.

                                                                                        

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